2018 é um ano eleitoral. Ano em que elegeremos um novo Presidente da República, após o período traumático porque passamos com a perpetração do golpe do impeachment da Presidenta Dilma Rousseff. As esperanças se renovam, mas o cenário é nebuloso. Há um grande esforço, tanto por parte da Justiça, quanto da grande mídia para impedir a candidatura de Lula, pois segundo todas as pesquisas o ex-Presidente, mesmo com grande rejeição, ainda é o candidato mais bem colocado nas pesquisas. Mas a probabilidade de a esquerda voltar ao poder parecem remotas, não apenas pelo provável impedimento de Lula, mas sobretudo por conta de dois outros fatores.
De um lado, a absurda desarticulação da esquerda, por conta da falta de um nome forte para uni-la e um certo acanhamento que vive, decorrente da perda do discurso ético, devido aos erros cometidos quando no poder.
De outro lado, pela reação dos setores mais conservadores da sociedade que tomaram de assalto o Poder e não pretendem largá-lo tão fácil, com aval da sociedade, novamente enganada, pelo discurso da renovação e de uma nova política.
Nesse cenário, nomes desconhecidos no meio, seja por não fazer parte dele, seja pela sua pouca expressão no cenário político, como João Dória, Bolsonaro e até mesmo o factoide global Luciano Huck despontam como novidades, desvinculados dos caciques tradicionais da política brasileira. E o povo, novamente enganado por esse canto de sereia, orquestrado pela mídia golpista e comprometida somente com seus interesses comerciais, embarca nessas falsas promessas.
É fato que há um certo saturamento com a política. A Operação Lava-Jato ao deixar todo mundo nu e revelar o seu viés ideológico, provocou na população um efeito contrário do que era de se esperar de um operação que viria para passar a limpo o Brasil: expôs toda a sujeira e, ao mesmo tempo, a sua cabal incapacidade de limpá-la. E alguns cadáveres ficam por aí, cheirando mal e andando entre nós, tal como o zumbi do Presidente, o morto do Aécio que a mídia trata de esconder, o cínico Jucá e o discreto Angorá (codinome de Moreira Franco nas planilhas da Odebrechet) e por aí vai. Ou seja, essa turma pestilenta saturou o ar da sua sujeira e o que era para ser um exemplo positivo para o Brasil de limpeza, tornou-se um contra-exemplo de que roubar, trapacear e mentir é vantajoso. Com isso a generalização é inevitável e a classe política toda é demonizada. De forma que o candidato que se apresenta como o não político e como homem de sucesso leva a parada.
Foi o que aconteceu com Dória, em São Paulo, por exemplo. E é o que ameaça acontecer quando se aventa nome fora da política como Huck. Já Bolsonaro é outro caso.
Em seu sétimo mandato como deputado federal – sétimo, veja bem – Bolsonaro emergiu das sombras da sua insignificância política com a radicalização do discurso. Quando os patos vestidos de amarelo saíram às ruas e alguns setores chegaram ao descalabro de pedir a volta dos militares, o capitão acordou do seu sono eterno e entreviu a possibilidade de, como político e ex-mititar, se credenciar a atender a esse anseio. É o que vem fazendo com muita astúcia, pois com o acanhamento da esquerda no Brasil e no mundo, a eleição do truculento do Trump nos EUA e a volta da direita ao poder na América Latina e na Europa, Bolsonaro vê que é possível trilhar esse caminho mesmo sustentando um discurso machista, homófobico, violento de maneira geral contra as minorias e o malfadado politicamente correto. Desprezado por muitos como um fanfarrão, cresce no vazio deixado pela esquerda e pelo crescimento da direita, que tradicionalmente é um crescimento centrípeto, ou seja, pra dentro, pra eles mesmos, deixando uma grande parcela da população desassistida. População que, rancorosa com a classe política e a corrupção, dá ouvidos a esse discurso violento que se apresenta como alternativa. E, convenhamos, é um discurso muito hábil em capturar esse rancor, pois dá a entender que seu articulador só não faz mais pelo povo e pelo país pelo preconceito sofrido e pela fata de oportunidade. É onde mora o perigo, pois tal sujeito se apresenta como o homem simples do povo, que fala a sua língua e que, como ele, povo, sofre a exclusão e o preconceito. É o discurso da raposa que se faz de morta para abocanhar as galinhas. Raposa que cresce na zona de sombras, pois a mídia não sabe o que fazer com ela: dar-lhe holofote? Ignorá-la? Promover uma silenciosa campanha contra?
Mas, em tempos de internet, quem precisa de mídia? As novas gerações sequer assistem TV. E a influência de Bolsonaro cresce de maneira assustadora nesse entorno. Não à toa, em 2017, ele foi considerado o parlamentar mais influente nas redes sociais, segundo o instituto FSB Pesquisas.
Quando chegar a hora de se assumir como candidato à Presidência, já terá um bom número de seguidores que o encorajarão a ir adiante. O monstro sairá das sombras e talvez seja tarde para detê-lo. Foi o que aconteceu com a surpreendente vitória de Trump nas eleições americanas e com Hitler, antes ridicularizado e subestimado pelos seus adversários.
São fenômenos de radicalização que de vez em quando acontecem com o mundo e esses líderes encarnam o anseio da população de exorcizar as suas frustrações e revoltas. Fenômeno este perigoso e de consequências imprevisíveis, que podem trazer um grande sofrimento para todos. A elite intelectual e política do país tem que parar de fazer pouco caso disso e prestar a atenção. Na sua arrogância, às vezes, custa a admitir que não sabe como lidar com isso e dá oportunidade para que cresça. Quanto antes agir, melhor. É preciso fazer o mea culpa dos erros cometidos e escutar o que o sujeito tem a dizer e vencê-lo no argumento. Para isso, recursos não nos falta. Mas não dá para cair no pecado da soberba, subestimando o inimigo.
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