Um pequeno ensaio. Talvez seja isso. Ia chamar de crônica, mas acho que não se encaixa bem no gênero.
Bem, independente do que seja, o importante é escrever.
Lembram daquela imagem: o jogador à beira do campo, se aquescendo para entrar no jogo. Já falei aqui e em outras oportunidades: é como me sinto em relação à escrita. Alguém se aquescendo para entrar no jogo de verdade.
É nesse sentido então que vai o texto abaixo.
PROVA DA EXISTÊNCIA DE DEUS
O homem durante muito tempo exigiu provas da existência de Deus, e os céticos dizem não serem capazes de crer porque não O entendem. Esquecem que muitas coisas também não entendem, nem por isso deixam de acreditar nelas. A natureza, por exemplo.
Contudo, a ciência, há mais de 500 anos, se propôs a explicá-la e foi jus-tamente por isso que se rebaixou o status do sobrenatural. O homem anteviu a pos-sibilidade de viver sem Deus, colocando em seu lugar outra forma de explicar o mundo. Seria apenas uma questão de tempo decifrar todos os seus enigmas, e hoje as pesquisas avançam DNA adentro, átomo e através do Universo. Mas ainda há muitos mistérios a serem respondidos. Qual a origem da vida? O que é afinal a ma-téria? Estamos sós no Universo?
Essas são questões que permanecem ainda sem respostas. O que não im-pede que o homem, municiado de todo aparato tecnológico existente, continue a procurá-las.
Como resultado desse esforço o homem acumulou, através da história, uma quantidade enorme de informação e conhecimento. O que tem forçado as no-vas gerações a buscar a especialização como forma de se destacar na sua área de atuação. Já há muito, foram-se os tempos em que o homem podia aspirar ao ideal faustiano: dominar todas as artes e ciências. Nesse sentido, é inconcebível, hoje, qualquer pesquisa de ponta sem a especialização e o trabalho em equipe, pois já não é mais possível apenas um cérebro dominar toda a informação disponível.
Assim, aquela exigência inicial do cético, de entender para crer, já não faz mais sentido nos dias atuais, pois não se diz para ele que a sua interrogação não tem resposta, apenas que é impossível dominar todo o conhecimento que está por trás das novas tecnologias. Não é por não entender como funciona o telefone celular que não vamos usá-lo. O mesmo podemos dizer das demais tecnologias como os automóveis, as mídias reprodutoras de som e imagem, mas, sobretudo, do computa-dor. Este último, então, tem aberto um mundo de possibilidades que deixa qualquer cético em xeque.
O que fazer se não crer no técnico de informática quando nos diz os co-mandos que devemos dar para um programa funcionar? Alguém ainda se atreveria a perguntar “por quê” quando se sabe que os sistemas operacionais nada mais são do que plataformas rodando uns sobre os outros, sendo o último apenas uma interface mais amigável? Ninguém se pergunta que complexos sistemas eletrônicos está acio-nando quando dá partida no carro. Queremos apenas que o carro nos transporte em segurança até nosso destino, assim como o celular tenha sinal para satisfazer a nossa necessidade. Quando não funciona, sempre haverá um técnico especializado a quem consultar. É como se hoje, ao irmos ao mecânico ou ao técnico de informática, fôssemos, nos tempos de Sócrates, ao oráculo para saber as respostas.
A questão não é mais que não há respostas. A questão é que não podemos saber tudo.
É nesse sentido, então, que eu me refiro: diante da enormidade de infor-mação disponível no mundo, hoje, está se abrindo um novo espaço para o sobrenatu-ral, pois a par de o homem ainda não ter conseguido responder as questões essenci-ais com todo este saber, este saber tornou-se ele mesmo um mundo à parte. Mundo este descolado daquelas questões iniciais que o originaram. À força de se chegar até elas o homem perdeu-se no caminho e hoje dá-se por satisfeito com os benefícios indiretos auferidos: as aplicações práticas deste saber. Aplicações estas que melho-raram sem dúvida o nível de vida das pessoas, mas que ainda continuam a lhes dei-xar sem respostas.
É nesta brecha – entre a promessa e cumprido da ciência - que as crenças voltam a se inserir, recuperando o status perdido, pondo à disposição do homem outras formas de apreender o real e a prática dos ritos equivalentes.
E neste terreno cabe ao neófito um pouco de cautela. Recuperar práticas e ritos aprovados e comprovados através da história, sob a guarda de instituições que através dos milênios lidam com estas questões, separando o joio do trigo. Como a igreja, por exemplo. Afinal, não seria esta a oportunidade adequada para ressuscitar o conceito do velho e bom Deus, depois que a História declarou a sua morte?
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