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O CONSUMO, O EGO E A REALIZAÇÃO PESSOAL

É da cultura ocidental o anseio de se sentir especial, de ser único e que a vida tenha algum sentido.  

Para muitas pessoas, isso passa pelo consumo: elas se identificam e distinguem pelas coisas que consomem: as roupas que vestem, os perfumes que usam, os lugares que frequentam, as viagens que fazem, o carro que dirigem.  

Ocorre que o capitalismo, que tudo transforma em mercadoria, inclusive os consumidores, atingiu um estágio de superprodução que a exclusividade deixou de ser o foco. O foco agora é o consumo de massa. Daí o sucesso da China que inunda o mundo de mercadorias.   

Mais e mais pessoas hoje tem acesso ao mercado consumidor. Quando não dos produtos originais, das cópias que, numa primeira vista, não se distinguem do original. As viagens também se tornaram mais acessíveis e já não há exclusividade nos aeroportos e nos cruzeiros de turismo. A classe média consegue acessar bens, serviços e destinos que antes eram exclusivos de uma parcela muito reduzida da população, a chamada elite.  

O capitalismo já não produz o que seja único e exclusivo, ao menos nesse momento de expansão. Ou seja: a via do consumo já não satisfaz mais ao anseio de uma identidade única e exclusiva. Sempre haverá alguém que terá acesso ao mesmo bem – ou a uma cópia, de forma que se é original ou não já não tem mais importância. O importante é parecer bem na foto.    

Para muita gente, isso é o fim.  

O consumo, como a droga do viciado, já não satisfaz mais. E como no caso do viciado, ele terá de aumentar a dose, aumentar o consumo, para tentar desfrutar de novo dessa sensação de exclusividade, cuja duração é cada vez menor. Situação que acaba entrando em choque com outra pulsão dos nossos tempos: a questão ambiental.  

É preciso reduzir o consumo, pois a natureza já não dá conta de prover matérias-primas para produção, tampouco para dar destino ao lixo produzido.  

A alternativa?  

A desintoxicação, buscando outras formas de satisfazer esse anseio de identidade e distinção apartadas do consumo, voltadas mais às categorias do ser do que do ter.      

Não por acaso, hoje, a busca da exclusividade se dê por outras vias, com as pessoas investindo mais tempo em atividades como a prática esportiva, a realização acadêmica ou profissional, a dedicação a alguma arte, ao desenvolvimento espiritual, a alguma causa altruística ou política. De forma que a realização desse anseio ocorre de maneira mais autêntica e satisfatória.  

Contudo, como é sempre o ego que está por trás, nunca haverá total satisfação.  Sempre haverá uma meta mais alta a atingir, seja a maratona a correr, o pós-doc a fazer, a causa ou a promoção a alcançar.  

O que nos remete afinal à origem do problema, ao anseio de identidade e distinção e a alguns questionamentos.   

Haverá mesmo necessidade de perseguirmos esse objetivo? Não podemos simplesmente viver, fazendo o nosso melhor e dividindo com todos, incluindo a natureza e os animais, o mesmo propósito? Reconhecendo no outro a dignidade do mero existir, independente de quem seja, o que faz ou representa?   

São questões que precisamos nos colocar para nos libertar, seja das garras do consumismo, seja das garras do ego, para uma vida mais plena e feliz, não apenas na esfera individual, mas também coletiva, incluindo o meio ambiente e, em última instância, o planeta em que vivemos.  

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